Ao final, a verdade.

Era uma vez uma casa sem avó.
Lá morava uma mulher bonita, cheia de alegria e de tristeza... não sabia direito quem ela era...
Ela gritava, não porque era surda ou porque os outros eram surdos... gritava porque ela era assim, gritona!
A casa cheirava a doce e a cachaça, de pitanga, de butiá...
Haviam samambaias que se arrastavam pela varanda...
Haviam sentimentos que se escondiam pelos parquês...
No pátio, o poço... que afogava os gatos...
Até que um dia naquela casa nasceu uma avó, que foi avó de 5 meninas!!! que sonho!!!
E agora descrevo a mulher que eu conheci:
Uma avó vaidosa que me cobria de amor, que me colocava no colo, me pressionava contra o peito e me consolava a cada passo...uma avó que me aplaudia, em pé, na primeira fila... o balé, o teatro, os desfiles, o debut, a formatura, a maternidade, o casamento, as primeiras festas...
Era orgulhosa das minhas escolhas e severa com os meus equívocos...
Selecionava os namorados... criticava duramente minhas falhas...
Alimentava minha sede de chocolate, meus desejos mais secretos - canjica - escondida do João antes de dormir...
Sentada na cama contava todas as novidades da cidade: quem casou, quem nasceu e quem morreu...
Abastecia meu coração com aquele olhar...terno...
Com ela eu aprendi muito, inclusive como não fazer... ora, ela era humana...apesar de ser avó...
Sempre insistia em ensinar a receita da ambrosia... eu sempre recusei, porque para mim no dia que ela repassasse a receita acharia que estaria pronta para partir... então, do alto da minha estupida visão... eu recusei milhões de vezes...
Não sei se todos neste mundo tiveram avó... elas dão trabalho, um trabalho do cão... são pessoas dotadas de ternura e de muita teimosia... não se iluda... mas elas te nutrem para a vida toda:
te ensinam a esquecer as palavras duras, te ensinam a aceitar... te ensinam como não agir...te ensinam a ser tolerante com os outros...
Vó, obrigada por me ensinar a usar baton, pulseiras, ter o nariz empinado, ser gritona, mandona, debochada... obrigada por me ensinar a não querer entrar na cozinha...
Infelizmente não aprendi tudo... quem sabe, quando eu for avó...
Obrigada pela escola de vida.

Comentários

LIA B. disse…
Oi querida nora, muito linda a tua colocação, cheia de ternura. Por certo a vó Lurdes ficaria orgulhosa lendo o mimo que escreveste. Quem sabe ela já leu....né? Beijo Lia
Ana disse…
Sem palavras...

Estou prestes a ser avó e sinto muitas saudades das minhas. Teu texto me tocou, senti os cheiros, senti como estas relações podem ser importantes, valiosas...

Um beijo!

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