Novembro

O mês de novembro e meu conflito: sinto saudades porque era um mês feliz, a família sempre se reunia para o feriado de finados... havia o passeio até o asilo, aonde compravámos flores, lírios, copos de leite, margaridas, rosas... uma delícia! Havia também o encontro com o tio Cassiano, um senhor de mil anos que morava no asilo e chamava a minha vó de "sinha" Lurdes! A minha avó explicava que ele era neto de escravos, eu ficava encantada, ele era um amor... nos entregava flores no final do passeio... era um mês cheio de planos onde íamos ao cemitério várias vezes para escolher tinta para a capela, trocar vidros, paninhos, santos... eu achava uma festa... percorria o cemitério fazendo visitas ao túmulo dos meus tataravós, bisavós... amigos queridos... mas nunca havia visitado o túmulo de alguém mais próximo... ok, fui uma criança feliz...
Em uma das muitas idas e vindas à minha amada Caçapava, levei o João para conhecer o cemitério e meus antepassados...e o cara casou comigo, como pode?
Enfim, sempre curti o programa ir ao cemitério, até ser obrigada a deixar a minha mãe lá. Quando ela morreu sai correndo para fazer tudo, fui pessoalmente falar com o coveiro, fui na prefeitura pagar a taxa, organizei tudo para fugir um pouco da dor. Quando tudo estava acabando olhei para o céu e agradeci à Deus pelo céu azul... naquele momento senti que minha mãe já fazia parte do céu.
Depois do enterro voltei ao cemitério várias vezes para tentar tirar de mim aquela impressão ruim do lugar. Ainda é difícil cruzar o portão, mesmo sabendo que lá ela não está...

Comentários

Anônimo disse…
Tio Cassiano!!! Menina tu lembras dele??? Pois é! A floricultura de Caçapava era o asilo Rosinha Borges( minha madrinha de batismo, que nunca deu a mínima para mim). Como isso marca a gente!Hj. com 55 anos ainda tenho as lembranças daquela mulher esnobe. Mas qto. às lembranças, tbm. as tenho. Era o point. Por incrível, o cemitério. Era lá que encontrávamos os parentes distantes. Minha mãe se arrumava todinha para ver a madrinha, irmã do Orlandinho e que todos chamamos de madrinha Ondina. Obrigada Lizi. Vc. tem me feito viajar a tempos distantes...e bons. Um beijo amada. um dia te pago a passagem. Hj. não pude ir visitar meu filho, acredito que lá, onde fica somente a matéria, ele não deve ter recebido visitas, o que para mim é um paradoxo, já que falamos de encontros em cemitérios e acredito no espírito. Mas é um caso cultural. Hj. chove demais em Floripa. Eu estou com 04 dias de cirurgia. Fui proibida de sair. Mas coloquei na "vitrola" todas as músicas que ele gostava, tocava e cantava. Acredito que estava aqui, comigo.

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